segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Novidades do mundo Telecom, gadgets!


Celulares com sensores de batimento cardíaco. Pulseiras que contam os passos caminhados. Aplicativos que mensuram a qualidade do sono. Com a popularização dos smartphones e o crescente fenômeno dos dispositivos vestíveis, a tecnologia vem abraçando rapidamente a oferta de recursos voltados para a saúde dos seus usuários. Entretanto, mesmo que seja considerada parte importante do futuro da medicina por especialistas, a automensuração digital requer cuidados. Para médicos e preparadores físicos, o fato da maioria dessas aplicações ainda não ser certificada por órgãos e conselhos de saúde ainda depõe contra o seu uso dentro e fora dos consultórios.
O supervisor de produção off-shore Cosme Saraiva, de 47 anos, é um dos que utilizam a tecnologia em favor de uma melhora na sua qualidade de vida. Praticante de corridas, ele treina utilizando um aplicativo de ginástica no seu iPhone, pelo qual controla a quantidade de quilômetros percorridos e o ritmo das suas passadas. No pulso, um relógio GPS também serve como auxílio.
— É muito prático treinar com essas tecnologias, porque elas te dão um retorno que serve como estímulo. Ainda que a confiabilidade não seja 100%, os dados já servem como um guia — afirma Saraiva, que corre diariamente no Aterro do Flamengo, na Zona Sul do Rio.

O designer Luiz Henrique Ottino, de 21 anos, é outro que vem aliando o monitoramento digital à sua rotina:
— Há uns seis meses resolvi usar um app para ver como estava a qualidade do meu sono. E, de fato, senti que, a partir dos dados que o aplicativo me retornou, passei a ter um controle e uma qualidade maior do meu descanso — afirma ele, também dono de uma pulseira e de um relógio inteligentes.
USO DESSES 'APPS' DISPARA
Saraiva e Ottino não são casos isolados. De acordo com um levantamento da empresa BI Intelligence, entre dezembro de 2013 e junho desse ano, o uso médio diário de aplicativos de saúde e exercícios só na plataforma da Apple aumentou quase duas vezes mais que a taxa do uso dos demais tipos deapps — 62% e 33%, respectivamente.
E esse fenômeno tende a se intensificar ainda mais com o futuro lançamento, anunciado este ano, das plataformas de saúde da Google (Google Fit) e da Apple (Health Kit), além da popularização dos dispositivos vestíveis feitos por gigantes da tecnologia como Samsung, LG e Sony.
No entanto, ainda que não duvidem do futuro papel da tecnologia pessoal no cuidado de pacientes, médicos afirmam que essas aplicações ainda devem ser encaradas com cautela.
— É um fenômeno inevitável, que será benéfico para médicos e pacientes no futuro. Porém, ainda existe uma desconexão entre todos esses dispositivos e apps e algum tipo de certificação que ateste a sua eficiência — afirma o pneumologista Geraldo Lorenzi Filho, presidente da Associação Brasileira do Sono (ABS). — Ainda que até possam ser úteis para os usuários, hoje não podemos recomendá-los.
Cardiologista do Hospital Balbino, no Rio, Rogério de Moura também diz ainda não ver utilidade para boa parte desses serviços digitais :
— Em geral, eles oferecem medições muito simples, que até podem ser curiosas aos usuários, mas que acabam tendo pouca serventia para nós, médicos.
A perspectiva dos profissionais de saúde encontra respaldo em um relatório da consultoria IMS Health. Divulgado em outubro do ano passado, o estudo mostra que a maioria dos aplicativos de saúde ou fitness têm funções limitadas, com pouca utilidade prática. Dos 16.275 apps analisados, 90% obtiveram uma nota inferior a 40, de um máximo de 100, na avaliação.
Presidente do Conselho Regional de Educação Física da Primeira Região (CREF1), André Fernandes reforça a necessidade de os usuários sempre consultarem profissionais, em vez de se deixarem guiar só pelos apps e aparelhos.
— A maioria desses serviços digitais não tem confiabilidade médica ainda ou um parâmetro que os respalde. Por isso, atualmente, o meu medo é que eles possam induzir alguns usuários a condutas inadequadas, provocando mais danos do que benefícios — afirma ele. — Daí importância das pessoas sempre procurarem uma orientação médica profissional adequada, ao invés de confiarem
Nutricionista e professora do Centro Universitário São Camilo, em São Paulo, Andrea Galante diz avaliar como positivos apenas os serviços digitais que oferecem informações aos usuários ou os ajudam a seguir as orientações de profissionais, sem sugerirem dietas ou condutas.
— A meu ver, esses serviços são úteis para reforçar uma recomendação médica e ajudar o paciente a colocá-la em prática. Mas a orientação ainda tem que vir do profissional, porque só ele é capaz de avaliar o paciente levando em consideração as suas características.
Gerente na área de saúde da T-Systems, empresa especializada em soluções de TI, Jomar Fajardo salienta a importância de os usuários terem em mente que a maioria dos aparelhos e aplicativos com funcionalidades voltadas para a saúde disponíveis no mercado não podem ser considerados médicos, mas apenas como ferramentas de monitoramento.
— Ou seja, eles são capazes de dar uma indicação do que está acontecendo na rotina da pessoa, mas não podem ser considerados como base para diagnósticos. Essa, em geral, é a proposta das empresas de tecnologia com esses produtos: oferecer parâmetros para o usuário se automensurar — explica o executivo. — O grande problema é que essas companhias ainda estão tendo uma grande dificuldade de explicitar essa diferença, o que pode causar confusão.
CAMINHO É BUSCAR VALIDAÇÃO
Para o pneumologista Geraldo Lorenzi Filho, o caminho natural dessas aplicações é buscar uma validação junto às entidades médicas, ainda que isso represente desafios:
— É uma forma de esses serviços terem uma importância maior na vida dos usuários, a partir de uma qualidade comprovada. O desafio para as empresas de tecnologia fica por conta do custo e do tempo desse processo, já que ele é caro e demorado, pois envolve testes e estudos. Isso acaba não sendo compatível com a velocidade com que a tecnologia pessoal avança.
Dono de uma pulseira de inteligente e adepto do uso de apps para monitorar as suas corridas, o publicitário Dalton Campos, de 32 anos, vê com bons olhos uma regulamentação do setor:
— Com isso, além de nos certificarmos da acuracidade desses serviços, também teríamos mais garantias quanto à privacidade dos dados referentes aos aspectos da nossa saúde, por exemplo.

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